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Ele conseguiu

Pouco mais de um ano depois de ser eleito, Barack Obama finalmente conquistou a aprovação, por margem apertada de votos, para uma de suas principais bandeiras de campanha: a reforma do sistema de saúde norte-americano.

A discussão, que já durava mais de 100 anos, desde a época do presidente Roosevelt, parece agora ter chegado ao final: a saúde, de fato, se tornará responsabilidade do Estado, assim como já acontece em muitos países europeus, Canadá e Brasil, para citar alguns exemplos.

Antes da reforma, a responsabilidade era do cidadão, que contava com o benefício das empresas, pagava um plano de saúde próprio ou arcava com os custos a cada consulta, exame, procedimento ou tratamento.

O papel do governo era apenas subsidiar a assistência médica para as pessoas de baixa renda, por meio do programa Medicaid, que atende cerca de 60 milhões de pessoas, e idosos, cegos e incapazes, por meio do Medicare (45 milhões).

Embora pareça um sistema “justo”, em que os mais pobres e idosos são amparados pelo Estado e as pessoas com poder aquisitivo maior pagam por assistência médica, o sistema de saúde dos EUA, que consome 15% do PIB, é cada vez mais foco das atenções na mídia internacional por discriminar pacientes, não atingir todas as camadas da população que precisam de atendimento público (mais de 30 milhões de pessoas não têm qualquer tipo de assistência) e pela baixa relação custo x benefício: percentualmente, o país gasta muito se comparado a economias tão desenvolvidas quanto a sua, mas tem resultados muito piores.

Com sua proposta, Obama espera enfrentar as operadoras e finalmente oferecer assistência médica quase universal: 97% da população será atendida com a nova política. Entre os tópicos importantes da proposta estão:

  • a participação mínima das empresas no pagamento do plano do empregado;
  • a proibição de recusa de pacientes com doenças preexistentes no plano de saúde;
  • a exigência de cobertura mínima obrigatória para todos os cidadãos – que deverão optar por um plano público, privado ou pagar uma taxa ao governo; e
  • a punição às operadoras que discriminarem quem tem mais chances de desenvolver determinadas doenças ou que cobrarem preços abusivos dos idosos.

A maior nação capitalista do planeta, conhecida por seu pragmatismo e, por muitos anos, por sua política internacional de confronto aos países comunistas, é contra a proposta. O presidente Obama não conta com o apoio de seus cidadãos para universalizar a saúde e está sendo acusado de criar um Estado intervencionista e até mesmo socialista.

Tudo isso me parece um grande exagero. O Brasil não se tornou socialista com o SUS e os países europeus elegem até mesmo governos de extrema direita, sem abrir mão de uma opção pública de saúde.

A livre economia de mercado é, sim, importante, e não se pode negar que gerou inovações, desenvolvimento e riquezas. Por outro lado, a crise econômica recente e a histórica desigualdade social e de acesso à saúde entre ricos e pobres de todo o mundo mostra que a regulação é fundamental para manter a economia saudável e que o papel do Estado é zelar pelos cidadãos desamparados e melhorar as condições de vida de sua população como um todo.

As bilionárias operadoras de planos de saúde norte-americanas não vão à falência e tendem a viver um processo de consolidação, como o que vemos no Brasil, em que as mais preparadas sobrevivem. Algumas vão, sim, fechar as portas, mas isso só mostra o amadurecimento do mercado, que será nivelado por cima.

Também não acredito que um país em que os cidadãos são tão empreendedores e independentes e as corporações tão fortes vá optar, em algum momento, por um sistema de saúde totalmente público.

A gritaria dos opositores neste momento é natural, mas tenho certeza que a população ainda vai rever sua postura e acabará agradecendo Obama por esta iniciativa.

O país que elegeu Bush filho por duas vezes e se redimiu elegendo um democrata negro também será capaz de, no futuro, apoiar e defender o novo sistema, que torna a assistência à saúde nos EUA mais equânime e justa.

P.S.: Você também pode ler este post no meu blog do Portal Saúde Business Web.

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Um jeito realmente novo de oferecer notícias na internet

Testei hoje uma nova ferramenta que o Google desenvolveu com o New York Times e o Washington Post, o Google Living Stories.

Foi a primeira vez que vi uma iniciativa que não busca responder como escrever para internet ou como o jornalista e o jornalismo vão enfrentar e sobreviver às ferramentas da web 2.0: os três gigantes reuniram suas expertises (de fazer os jornais mais respeitados do mundo e de ser o melhor buscador da internet) para mudar a forma de apresentar e organizar as notícias.

O resultado, embora ainda careça de desenvolvimento (senti falta de um espaço para jornalismo cidadão/wikijornalismo), me deixou bastante empolgada. Funciona da seguinte forma: você escolhe uma das matérias mais atuais escritas por um dos dois jornais e vai para uma página que agrega todo o conteúdo relacionado àquele tema, em todos os formatos.

Ao invés de clicar em diversos links e buscar as suítes das matérias nos dias seguintes, você encontra tudo no mesmo lugar e a ferramenta ainda sinaliza o que foi atualizado desde a sua última visita.

Eu decidi acompanhar hoje a discussão sobre a reforma de saúde nos EUA com esta nova ferramenta e pude escolher o que e como ler/ver: frases, vídeos, fotos, eventos, gráficos, opiniões, o envolvimento de cada personagem (presidente, senadores, deputados, etc.) com o assunto e até mesmo outras fontes, que não reportagens, que pudessem me interessar (documentos, artigos, editoriais, etc.).

Adorei a linha do tempo, com links para reportagens mais antigas relacionadas àquele assunto, e o fórum, que, no tema que eu estava acompanhando, chamava-se Healthcare Conversations. É muito interessante: os assuntos foram transformados em gráficos e cada tema ganha mais espaço no desenho conforme o número de participantes (como acontece com as nuvens de tags), além de contar com ícones representando mulheres e homens, com balões que já expõe uma parte do comentário.

Na parte de notícias, a ferramenta resume as reportagens mais antigas e abre mais espaço para as novas e mais relevantes, mas ainda permite que o leitor volte ao assunto que passou a ser destacado só com a manchete: o texto completo aparece com um simples clique.

Agora sim dá para falar em interatividade! Não é só pedir para que o leitor comente uma notícia, mas deixá-lo decidir o quê, como e em que formato ele quer ler, usando um sistema com interface amigável.

Por enquanto, o projeto é experimental e só conta com conteúdo dos dois jornais que participaram da concepção do Google Living Stories, mas o gigante da internet espera expandir a ferramenta para qualquer outro veículo interessado. Algum jornal brasileiro topa?

E, para terminar, uma frase da Ariana Hunffington, que edita um dos blogs mais poderosos do mundo, o Huffington Post:

“Vamos ser honestos. Enquanto a promiscuidade não é boa para os relacionamentos, é ótima para aqueles que buscam notícias e informações. Tentar negar aos consumidores a mais vasta gama de opções e pontos de vista possível parece miopia – e, no fim das contas, auto-destruição.”

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Liberdade (?) de expressão

Num tempo em que a linha entre vida pública e privada, perfil pessoal e profissional, fica cada vez mais tênue, vale a pena discutir se as mídias sociais estão ampliando ou restringindo nossa liberdade de expressão e, mais do que isso, nossa liberdade de simplesmente ser.

Vejo no Comunique-se que os jornais Folha de S. Paulo e Washington Post, além da TV Globo, acabam de criar regras para restringir o uso de Twitter, Facebook e outras mídias por seus profissionais.

De acordo com o Washington Post, “Quando utilizamos ferramentas de mídia social para a reportagem ou assuntos privados, nós devemos lembrar que um jornalista do Washington Post é sempre um jornalista doWashington Post”.

Concordo em parte. As organizações, jornalísticas ou não, devem se preservar e também é dever do profissional zelar pela imagem da empresa em que trabalha, mas não acho que as corporações podem invadir e monitorar Facebooks, Orkuts, Twitters e Blogs de seus funcionários em nome de sua reputação.

No caso dos jornalistas, acredito que estas novas mídias ajudaram a dar vazão ao nosso desejo de escrever o que queremos, de opinar sobre os temas que nos interessam ou afligem, enfim, de ter nosso espaço para expressar anseios, angústias e alegrias, já que a ética profissional prega a “imparcialidade, neutralidade e objetividade”.

Para mim, antes da restrição, deveria vir a educação, tanto dos profissionais, quanto dos leitores.

O profissional sabe o que pode ou não divulgar em suas páginas pessoais e pode receber algum tipo de orientação extra, uma espécie de aula sobre boas maneiras na internet, antes de sofrer vetos. Se mesmo com a orientação ele agir de má-fé, furando seu próprio veículo ou denegrindo a imagem da empresa em que trabalha, deve ser punido.

E o leitor precisa entender a diferença entre Pessoa Física e Jurídica, porque assim como ele, fora do trabalho, o profissional de comunicação é uma pessoa com opiniões e sentimentos e com direito de expressá-los. Uma simples nota de rodapé em blogs e afins, como as que se colocam nos artigos, pode ajudar a fazer o leitor compreender isso:

As opiniões aqui publicadas refletem unicamente a posição de seu autor, não caracterizando endosso, recomendação ou favorecimento da empresa XXXXXXXXXXXXXX.”

A web 2.0 inaugurou uma nova época, que nos permite ter uma série de facilidades, mais acesso à informação e um ambiente mais colaborativo, mas exige mudanças na forma de pensar e agir, antes que seus avanços sejam aniquilados pela patrulha ideológica.

As ferramentas vieram para trazer mais liberdade e aumentar a conexão entre as pessoas, não para transformar o mundo em um Big Brother. O bom senso e o respeito ao próximo devem ser nossos guias nesta nova era.

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